Técnicas de Estudo e Memorização

Memória de Trabalho e Autismo: o que a ciência tem descoberto

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, as interações sociais e pode envolver comportamentos repetitivos e interesses restritos. Os primeiros sinais geralmente aparecem entre 2 e 3 anos de idade, e o diagnóstico é mais comum em meninos. Nas últimas décadas, o número de diagnósticos aumentou — 1 em cada 68 crianças pode ter TEA.

Embora as dificuldades cognitivas não façam parte dos critérios oficiais de diagnóstico, estudos mostram que pessoas com TEA podem apresentar alterações no funcionamento executivo — um conjunto de habilidades mentais que nos ajuda a planejar, controlar impulsos, mudar o foco de atenção e lembrar informações importantes, sendo a memória de trabalho uma das funções mais estudadas.

Ela é um tipo de “memória temporária” que permite armazenar e manipular informações por curtos períodos. É ela que nos ajuda a lembrar de um número de telefone enquanto o digitamos ou a seguir uma tarefa. Segundo o modelo proposto por Baddeley e Hitch, a memória de trabalho tem 3 partes:

  • executivo central, que controla a atenção e coordena as demais partes;
  • alça fonológica, que lida com informações verbais e sonoras;
  • bloco visuo-espacial, que processa imagens e posições no espaço.

Essa função é essencial não apenas para atividades cognitivas, como leitura, raciocínio e resolução de problemas, mas também para habilidades sociais e de comunicação, que frequentemente são desafiadoras para pessoas com TEA. Pesquisas indicam que déficits na memória de trabalho podem contribuir para dificuldades de aprendizagem, comportamento, atenção e interação social.

Alguns pesquisadores encontraram déficits claros de memória de trabalho em pessoas com TEA, tanto em tarefas verbais quanto visuais; outros, porém, não observaram diferenças significativas em relação a pessoas sem o transtorno. Essas divergências levaram os cientistas a investigar mais profundamente o assunto.

Foi nesse contexto que Habib e seus colegas, da Universidade de Glasgow, realizaram uma uma revisão estatística de vários estudos já publicados sobre o tema. O objetivo foi compreender melhor se as pessoas com TEA apresentam realmente déficits na memória de trabalho e em quais domínios esses déficits são mais pronunciados — se na memória fonológica (ligada à linguagem) ou na memória visuo-espacial (ligada às imagens e ao espaço).

O estudo também buscou corrigir falhas metodológicas de análises anteriores, realizando uma busca mais ampla e criteriosa nas principais bases científicas. Os pesquisadores controlaram variáveis importantes como idade e quociente de inteligência (QI), para garantir comparações mais justas entre os grupos.

Essa investigação é importante porque compreender como a memória de trabalho funciona em pessoas com TEA pode ajudar educadores, terapeutas e familiares a desenvolver estratégias de ensino e apoio, promovendo o aprendizado, a autonomia e a qualidade de vida dessas pessoas.


Referência:
HABIB, Abdullah; HARRIS, Leanne; POLLICK, Frank; MELVILLE, Craig. A meta-analysis of working memory in individuals with autism spectrum disorders. PLOS ONE, v. 14, n. 4, e0216198, 2019.

Lelê

Oi, sou a Lelê! Licenciada em Pedagogia e Educação Especial e Especialista em Educação Especial Inclusiva. Dedico minha vida ao conhecimento. Aqui é o meu espaço para compartilhar dicas e macetes sobre memorização com foco em estudantes com dificuldades de aprendizagem. Espero que goste :) Ahh... e não esqueça de assistir à aula GRATUITA sobre Memorização de Estudos do Professor Renato Alves neste link: https://estudarememorizar.com.br/memorizacao-de-estudos/

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