Memória de Trabalho e o Cérebro em TDAH: Como o Cérebro Processa, Pensa e Aprende
A memória de trabalho é um sistema cognitivo essencial responsável por manter e manipular temporariamente informações necessárias à realização de tarefas mentais complexas, como a compreensão de leitura, a aprendizagem de novas línguas, o raciocínio e a resolução de problemas. Diferente da memória de curto prazo, que apenas armazena informações por breves instantes, a memória de trabalho envolve o uso ativo desses dados, permitindo que o indivíduo pense, decida e aja de maneira orientada a objetivos.
De acordo com o modelo multicomponente proposto por Alan Baddeley, amplamente aceito na literatura, a memória de trabalho é composta por três elementos principais. O primeiro é o bloco visuoespacial, responsável por armazenar informações visuais e espaciais com capacidade limitada. O segundo é o laço fonológico, formado por dois componentes: o armazém fonológico, que retém informações verbais e auditivas, e o circuito articulatório, que mantém essas informações ativas por meio da repetição subvocal. O terceiro é o executivo central, que coordena os recursos atencionais, organiza as informações e controla a integração entre diferentes modalidades cognitivas, sendo considerado o componente central desse sistema.
Posteriormente, Baddeley acrescentou um quarto componente: o buffer episódico, cuja função é integrar informações provenientes do laço fonológico, do bloco visuoespacial e da memória de longo prazo. Esse mecanismo permite a formação de representações complexas e integradas de natureza visual, espacial e verbal, armazenadas de forma temporal e cronológica.
O funcionamento da memória de trabalho envolve três etapas fundamentais: codificação, manutenção e recuperação. A codificação refere-se ao processo inicial de percepção e aprendizagem das informações, podendo ocorrer de forma visual, auditiva, semântica ou elaborativa. A manutenção diz respeito ao armazenamento temporário e à manipulação ativa desses dados, enquanto a recuperação envolve a evocação de informações previamente armazenadas, seja por recordação livre, com pistas ou em sequência.
Neurobiologicamente, a memória de trabalho depende de uma ampla rede de regiões cerebrais interconectadas, especialmente o córtex pré-frontal, os lóbulos parietais, o cíngulo anterior, o cerebelo e os gânglios da base. Estudos de neuroimagem funcional (fMRI) demonstram que tarefas envolvendo memória de trabalho ativam significativamente o córtex dorsolateral pré-frontal, área associada ao controle executivo e à manipulação de informações. A atividade do córtex cingulado anterior está relacionada ao monitoramento de erros e ao ajuste do desempenho, enquanto o córtex ventrolateral pré-frontal e a ínsula anterior participam dos processos de seleção e inibição de informações irrelevantes.
Além disso, o hemisfério esquerdo do córtex pré-frontal tende a ser mais envolvido em tarefas de memória de trabalho verbal, enquanto o hemisfério direito é mais recrutado em tarefas visuoespaciais. O cerebelo e os gânglios da base também desempenham papéis relevantes, participando da repetição subvocal e da regulação motora e cognitiva.
Esses achados reforçam que a memória de trabalho é um sistema dinâmico e distribuído, cuja eficiência depende da interação entre múltiplas áreas corticais e subcorticais. Em indivíduos com TDAH, disfunções nessas redes estão associadas a prejuízos no controle atencional, na autorregulação e na aprendizagem, evidenciando a importância do treinamento dessa função cognitiva para o manejo do transtorno.
Referência:AL-SAAD, Maha Saleh Habsan; AL-JABRI, Basma; ALMARZOUKI, Abeer F. A review of working memory training in the management of attention deficit hyperactivity disorder. Frontiers in Behavioral Neuroscience, v. 15, p. 1–15, 2021.
